Um mar metaforizado. Palavras que caem às gotas do céu encolerizado, palavras que pressionam e ao mesmo tempo sugam até à zona abissal onde a escuridão é dominante. Nada se vê à frente. Qualquer fonte de luz que desça até aqui é escassa, não ilumina mais do que dois metros. E, no entanto, a inteligibilidade destas palavras vê-se ao longe.
Que faço com estas palavras? Como se pega em algo líquido? A água fervente que trago dentro de mim une-se ao gelo que me rodeia, e toda a minha pele transforma-se numa barreira inútil e irresistível ao choque. Cedo. Quebro. A caminhada até à superfície é longa, não tenho braços que me permitam chegar a tempo. As letras rebolam uma a uma pela minha boca, até inundarem a garganta e, por fim, os pulmões. Este mar parabólico engole-me. Com o tempo, eu próprio hei-de transformar-me em mar. Já sou parte dele, mas a diferença ainda se nota. Sou um corpo marítimo, antes celeste, que terá oportunidade de se juntar à areia que com pouco ou nenhum esforço sustenta o meu peso. Afundei com o navio. Sempre gostei de navios. Principalmente de luxuosos paquetes, apesar de não ter acesso monetário ao topo. Mas afinal, que interessa isso, se vamos todos parar à areia? O fosso é a última classe pela qual passaremos. Bem-vindos à Estrela do Oceano. Não penso nisso, neste momento. Não penso nisso em momento nenhum. Quero uma outra Estrela do Oceano. Quero ir até ao fundo, mas para voltar ao cimo completamente intacto. Quero trazer em mim a maior jóia deste mundo, a criação mais bem talhada que é possível encontrar.
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Março 2017
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